domingo, 29 de junho de 2014

Brasil, o país do contraditório.

Vaias ao hino chileno. Você está indignado com a falta de educação da torcida brasileira ontem em Belo Horizonte?

Pois bem, agora responda: você também ficou indignado com a manifestação desrespeitosa contra a Presidente Dilma na estreia brasileira da Copa? Ou achou lícita e justificada a reação do “popular”?

Sabe qual a diferença entre os dois episódios? Nenhuma.

Os dois fatos escancaram a completa falta de respeito e civilidade da população brasileira, independente de classe social. Quem apoia o xingamento contra uma autoridade para o mundo ver, deve obrigatoriamente concordar com a vaia ao hino nacional de outro país. Se apoia de um e não o outro, é hipócrita!

Por outro lado, é incrível a indignação no momento em que um estrangeiro expressa-se contra o brasileiro, especialmente se for de forma desrespeitosa. E então, exigimos um respeito em nosso favor que não exercemos com os outros?

Esse tipo de gente é a mesma que compartilha a ação de mascarados em manifestações nas redes sociais, além de apoiarem a diversos movimentos anárquicos existentes no país atualmente, cada um com seu formato e tamanho.

Além disso, são incapazes de suportarem argumentações contrárias, discordâncias, e para isso só utilizam do expediente da violência verbal e moral aos que entendem como "burros e ignorantes" para TENTAREM validar o que falam. Pobres coitados, só provam que são contraditórios, desprezando a manifestação contrária em detrimento da defesa de suas convicções.

Mas todos esses episódios ocorridos na Copa não são os maiores problemas. Os piores são todos os demais fatos que ocorrem no dia-a-dia, pois espetáculo esportivo acabará daqui alguns dias, mas as manifestações desrespeitosas, violentas e mal educadas continuarão acontecendo, independente do tempo.

Sem dúvida a educação é a solução para todos esses males. Mas não a educação tradicional do ler e escrever, estamos falando da educação cívica, aquela que você aprende na escola e em casa. Sem isso, o circo de horrores continuará firme e forte.

É espetacular a capacidade dos brasileiros reivindicarem direitos sem cumprirem seus deveres mais básicos. Somos verdadeiramente herdeiros de séculos de descasos e desmandos, e isso se reflete em nossas atitudes.

Difícil é imaginar que no dia em que nos dermos conta disso, talvez tudo o que nos é reservado terá se esvaído, e continuaremos as mesmas migalhas que temos hoje. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O limite da razão.

Se a intenção era demonstrar a insatisfação brasileira contra o atual governo, a torcida presente ontem na Arena São Paulo (vulgo Arena Corinthians) logrou seu êxito.

A repercussão do protesto foi internacional, fazendo com que protocolos formais da solenidade de abertura da Copa do Mundo, como o discurso da própria Presidente, fossem deixados de lado.

Agora, é inquestionável que toda razão tem um limite, e enquanto a manifestação “popular” esteve no campo da vaia, foi legítima e de apoio maciço de toda a população. Porém, a partir do momento em que o descontentamento foi verbalizado em coro uníssono “Hei, Dilma, vai tomar no c....”, a razão dá lugar ao excesso.

Entendam, não estou falando que a manifestação não foi legítima, pois é a demonstração mais fiel (e não vem ao caso discutir se quem estava no estádio ontem representava ou não a maioria da população brasileira) do descontentamento popular atual. Agora, a verbalização em ofensa para o mundo ouvir, esse é o ponto a ser discutido.

Todos nós sabemos que se o objetivo do governo era mostrar um país capaz de receber um evento de peso como a Copa do Mundo, esse foi por água abaixo. Os inúmeros problemas das obras dos estádios, superfaturamentos, negociatas, entre outros, já explicitaram ao mundo inteiro que em matéria de alegria somos insuperáveis, mas em organização ainda estamos aquém do mínimo aceitável.

Agora, imagina o brasileiro, aquele que paga seus impostos e os vê virarem fumaça em uma cortina de incompetência estatal: o sentimento de indignação é infinitamente superior. Se pensarmos que esse mesmo brasileiro tem seus direitos mais básicos são constantemente rasgados pelos representantes eleitos, os frutos de uma Copa do Mundo para a grande maioria são ínfimos, quase nulos.

Aqui em Curitiba, por exemplo, somente os moradores no entorno da Arena da Baixada estão gozando de algum legado da Copa, pois a região foi totalmente revitalizada. No mais, o restante da cidade continua a mesma coisa, ainda que inegavelmente melhor a grande maioria dos municípios brasileiros.

Só que como já havia comentado em outros posts, o brasileiro reivindica errado, e por isso conquista pouco em seu favor. Protestar contra jogadores ou xingar a Presidente em projeção mundial não mostram para o mundo somente nossa insatisfação, evidenciam sobretudo nossa falta de educação e civilidade.

E enquanto alguns poucos discordam desse tipo de agressão verbal, como esse que vos escreve, os quais inevitavelmente serão alvos de críticas, a grande maioria aplaude, disseminando mais um exemplo de quão ainda somos imaturos como reivindicantes de nossos direitos.

É claro que pelo fato deste blog ter poucos acessos, esta mensagem fatalmente terá pouco alcance e não cause nenhuma repercussão. No entanto, se meia dúzia de pessoas lerem e pelo menos pararem para pensar por um instante no quão infeliz foi a atitude da torcida ontem, já terá valido a pena.

Digo e repito, protesto ordeiro e sem violência são absolutamente legítimos. Agora, a agressão gratuita, independente da forma a qual seja feita, ainda que legitimada, perde sua razão.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Clichês populares.

E muito provável que existam diversas opiniões divergente, mas isso faz parte de quem se propõe a expor uma visão própria sobre determinado assunto.

Tenho lido muita coisa sobre a Copa do Mundo e os protestos no Brasil, seja pela imprensa oficial ou pela não oficial. De fato, vemos neste momento que nosso país é a caricatura mais perfeita do que somos como nação há muitas décadas: um povo perdido, que muitas vezes se leva pela maré do momento, e quando resolve insurgir-se, geralmente é contra o alvo errado.

Tomemos os protestos já ocorridos e que provavelmente ocorrerão durante a Copa do Mundo no país como exemplo. A tal hashtag #nãovaitercopa virou clichê nas mãos de muitos que deixam levar-se unicamente pela onda temporária. E por mais que existam motivos para que defendam tal ponto de vista, esse ódio origina-se em parte do descaso dos próprios em relação ao país por décadas, não apenas aos últimos sete ou oito anos.

Além desse, existem diversos outros clichês existem para outros assuntos do cotidiano. Quem já não ouviu que a violência é motivada pela desigualdade social? Ou seja, todo cidadão pobre possui salvo conduto para cometer as mais diversas modalidades de crime? Sinceramente, quem começa uma discussão argumentando dessa forma já não é merecedora de se ouvir.

É tão grave essa situação desses clichês que são jogados à população como carne com sangue às piranhas, que pessoas como Marilena Chauí, professora da USP e filiada ao PT, viram uma espécie de oráculos da sociedade contemporânea.

A tal professora disse em uma palestra da militância esquerdista, tendo como ilustres convidados o ex-presidente Lula, que “odeia a classe média”. O interessante de tudo isso é que a plateia após ouvir tal discurso aplaudiu de forma efusiva!

Agora vamos pensar: como pode alguém que é professora da USP, a qual deve ganhar um salário muito muito maior que a imensa maioria da população, ser contra a classe média, se muito provavelmente faz parte dela? Ou será que a ilustre docente firmou voto de pobreza, e todo o seu salário é distribuído entre os pobres? Conversa fiada.

Frases como essa são somente mais clichês de idealistas que buscam aceitação ante uma massa de pessoas não críticas. Apenas isso.

Não obstante a tudo isso, é claro que os protestos ocorridos e que ocorrerão no Brasil são mais do que legítimos. Somos um país riquíssimo, a ponto de sobrevivermos por décadas a governos corruptos que em outras circunstâncias já teriam quebrado nossa pátria mãe.

Mas para que toda essa movimentação popular tenha efeito prático, o povo protestante também deve fazer sua parte, pois não é possível que toda essa indignação se deva somente a um evento esportivo (que por sinal nem deveria estar por aqui, mas enfim!), como se este fosse todos os males de nosso país. Não é!

Protestamos agora de forma veemente contra a Copa do Mundo, mas e na hora que interessa, em outubro, vamos reelegem por exemplo a turma do Foro de São Paulo?

Protestos devem ser mantidos para a não perpetuação das ditaduras atualmente existentes no Brasil, como da família Sarney no Maranhão! Protestos devem ocorrer contra a manutenção de políticos como Calheiros, Malufs, Dirceus, Genuínos e Tiriricas! Esse é o protesto legítimo e com consciência, não aquele de ficar grudando adesivo em ônibus de seleção reivindicando aumento de salário.

Parece repetitivo, e deve ser mesmo: reeleger os mesmos políticos que por décadas é compactuar com tudo o que tem sido feito de errado no nosso país.


Façamos uma reflexão do que estamos fazendo o Brasil, e veremos que o problema vai muito além de um evento esportivo, pois a maior culpa de todo o caos institucional brasileiro é nossa.

domingo, 18 de maio de 2014

Destaque da semana: Caos pernambucano

Uma vergonha. Essa é a definição para a onda de saques que ocorram na última semana em Pernambuco.

Com a greve da Polícia Militar no estado, a população aproveitou-se da situação para promover uma série de crimes contra o patrimônio privado, roubando pessoas, lojas, caminhões, parecendo mais um ataque de formigas a um inimigo natural.

São vários os vídeos que estão na internet flagrando a ação dos populares, assim como a decepção dos donos de estabelecimentos comerciais atacados, limitados a contabilizarem as perdas de tudo o que foi roubado e depredado. Em um dos relatos, o comerciante chegou ao seu estabelecimento em meio a ação dos vândalos, e somente com a ajuda da Polícia Rodoviária conseguiu frear o ímpeto dos ladrões de conveniência.

Tentando criar um paradoxo entre o fato e o país, a pergunta que surge: é possível que esse povo seja o mesmo que protesta contra a corrupção do governo os desmandos da política nacional? São merecedores de crédito em suas reivindicações?

Fazer qualquer comparação desse roubos ocorridos no Pernambuco com os inúmeros desvios de verbas públicas realizados nas entranhas dos governos não  é mera coincidência. Um fato é retrato do outro, mostrando que o problema não é só institucional, mas sobretudo moral, de educação e de civilidade.

Não é possível que o fato da Polícia Militar entrar em greve reivindicando direitos legítimos para si delibere a ação selvagem de uma população insana, que pratica atos os quais acha bonito lutar contra diante da televisão.

O sentimento de impunidade que julgamos fazer parte da vida da classe política é o mesmo que motiva esse tipo de ação, e quem se presta a esse tipo de papel é tão ladrão quanto aqueles que lesam o erário público, apenas em proporção menor.

Após o restabelecimento da ordem com a volta da PM às ruas, na última sexta uma parte dos bens roubados começaram a ser devolvidos por algumas pessoas  que se preliminarmente se "arrependeram" do crime de ocasião que cometeram. De certo que a consciência desses pesou a ponto de tomarem a atitude de devolver o fruto de suas ações. Mas pelo ocorrido, credito muito mais esse lapso de honestidade ao medo de ser identificado e preso pela polícia do que de arrependimento sincero e genuíno.

Isso mostra que nós temos SIM o governo que merecemos, e parecemos hipócritas quando saímos às ruas contra a corrupção.

Como já diz o ditado popular “a ocasião faz o ladrão”, e quando o veículos internacionais alertam os turistas para de precaverem ao virem ao Brasil para a Copa, não fiquemos indignados, eles apenas não estão acostumados a algo que para nós parece ser rotineiro e endêmico: a falta de moral e caráter de nossa sociedade.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A ignorância e os desmandos

Faz poucos dias que escutei na rádio um comentarista dizer “no Brasil parece ser bonito falar que uma obra custará R$ 100 milhões, e no final a conta ficar quatro, cinco vezes maior”. Pelo que temos visto nos últimos anos, essa é quase uma verdade absoluta.

Obras como a reforma do Maracanã para o Panamericano de 2007, da Copa do Mundo ou a transposição do rio São Francisco, são apenas alguns exemplos atuais dessa verdade maléfica ao erário público, e desrespeitosa com o contribuinte brasileiro.

Agora a bola da vez é a construção da refinaria de Abreu e Lima pela Petrobrás, que segundo reportagem apresentada pelo jornal Valor Econômico hoje (15/05), a obra inicialmente orçada em cerca de R$ 4 bilhões, até agora custou aos cofres da petrolífera quase R$ 40 bilhões.

É tão absurda a situação de Abreu e Lima, que três dos contratos firmados entre a Petrobrás e consórcios responsáveis por partes da construção da refinaria tiveram seus valores próximos do total inicial do empreendimento. Com o Consórcio CNCC (Camargo Corrêa e Cnec Engenharia) o contrato orçado originalmente em R$ 3,3 bilhões, com os aditivos chegou a R$ 3,8 bilhões. O contrato com o Consórcio Rnest Conest (Odebrecht e OAS) que inicialmente custava 3,1 bilhões, com os aditivos chegou a R$ 3,7 bilhões. E por último, o contrato com o Consórcio Ipojuca (Queiroz Galvão e IESA) saltou de R$ 2,8 bilhões para R$ 3,5 bilhões.

No entanto, o que chamou mais a atenção sobre Abreu e Lima foram os gastos de bilhões de reais antes da aprovação do estudo de viabilidade da obra, o qual foi aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobrás apenas em 2010. Só para se ter uma ideia, a primeira decisão do Conselho sobre tomada de crédito junto ao BNDES para este empreendimento foi formalizado em 2008, ou seja, dois anos antes da aprovação do estudo de viabilidade.

Na prática, isso seria como acertar a compra dos materiais para a construção de uma casa baseado apenas na vontade de construí-la, sem um projeto de engenharia, uma planilha de orçamento e as autorizações necessárias para a edificação da mesma.

Só para exemplificar o que está sendo demonstrado pelo Valor, em 2008 foi autorizado pelo Conselho de Administração da Petrobrás a tomada de empréstimo de R$ 10 bilhões junto ao BNDES (sendo que o custo da obra inicialmente era de R$ 4 bilhões). Em 2009, foram autorizados a assinatura dos contratos de fornecimentos junto a empresa Jaraguá Empreendimentos no valor inicial R$ 1 bilhão de reais, não incluindo nessa monta os aditivos posteriores. E a pergunta que fica é: baseado em que foram feitos esses acordos? No achismo? No chute? Em acordos prévios?

Apenas a título de informação, em 2008 o mesmo Conselho de Administração havia aprovado apenas o "plano básico de organização" para Abreu Lima, instrumento que pelo que se lê da reportagem não daria respaldo algum para o início de investimentos na obra.  

Enfim, essa é só mais uma polêmica onde o nome da Petrobrás está envolvida, do qual provavelmente ainda ouviremos muito, principalmente no meio político. E já antecipo, do jeito que as coisas começaram nas comissões de investigação na Câmara dos Deputados e Senado sobre as denúncias já públicas relacionadas à petrolífera, o governo fará de tudo para causar confusão no andamento dos trabalhos, pois estamos em ano de eleição, e a manutenção do poder é sagrada.

E em meio a esse panorama, enquanto a população reivindica o básico em protestos e já pensa na Copa do Mundo,a minoria dominante comemora: "viva a ignorância coletiva, ela é uma benção para nós".

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Dois Brasis.

Ontem (08/05) o jornal Valor Econômico apresentou uma pesquisa realizada em um evento com alguns dos principais executivos brasileiros, em que um dos tópicos foi sobre suas intenções de votos para a disputa presidencial desse ano. De um total de 103 votantes, o resultado apurado foi o seguinte:

1º) Aécio Neves - 70% (72 votos); 2º) Eduardo Campos - 16,5% (17 votos); 3º) Dilma Rousseff – 2,91% (3 votos). Outros candidatos somaram 1,94%, enquanto votos em branco, nulos ou sem intenção de voto no momento registraram 8,65%.

Enquanto isso, a Revista IstoÉ também divulgou há poucos dias pesquisa de intenções de votos ouvindo a população.  Das 2000 pessoas consultadas, foi apurado o seguinte:

1º) Dilma Rousseff - 35% (700 votos); 2º) Aécio Neves – 23,70% (474 votos); 3º) Eduardo Campos – 11% (220 votos). Outros candidatos, votos em branco, nulos ou sem intenção de voto no momento registraram cerca de 30%.

A partir desses dados, fica evidenciado que o Brasil está divido em dois: o da classe média/empresários e o da população em geral, sendo esta segunda notadamente mais privilegiada pelo atual governo.

O PT, aliás, sempre deixou evidente essa segregação em seu governo. Os números das duas pesquisas se comparados mostram isso, principalmente se levarmos em conta que o famoso bolsa família, que nada mais é que a junção de uma série de benefícios populares já vindos de governos anteriores, acabou se tornando seu principal cabo eleitoral nos últimos anos.

Entre a classe média e industrial no entanto as queixas são inúmeras, principalmente relacionadas à complexidade da cadeia tributária instituída no país e a falta de diálogo do governo com os setores produtivos. Isso foi apontado por 88,5% dos empresários dos diversos setores da economia, conforme apresentado pelo Valor Econômico na mesma matéria das intenções de voto.

Fazendo um paralelo a tudo isso, dias atrás o líder do PT, o deputado Rui Falcão, através de sua conta oficial do twitter escreveu que o POVO não vai deixar que ocorra uma mudança do atual governo, e que segundo entendimento do mesmo, seria voltar no tempo. 

Apenas como lembrança, subsidiar o povo em troca de voto é voltar ainda mais no tempo, quando o cabresto era quem mediava as relações entre classes, só que de forma mais amena.

Controlar o povo através de assistencialismo é voltar aos tempos da escravidão, apenas sem a constituição de quilombos. 

Essa é a nossa realidade, a de um país dividido em dois. Cabe a nós decidirmos se mantemos os "dois Brasis", ou voltamos a ter uma nação só, tratadando todos os setores com isonomia para que tenham oportunidades.

Esse é o país que desejamos, e que pode voltar a crescer, e não o atual faz-de-conta cantado em verso e prosa pelos petistas.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

(In)justiça coletiva.

Não faz muito tempo um jovem na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, foi preso a um poste e deixado seminu pela ação de supostos justiceiros. Na ocasião, o menor foi acusado de cometer um furto na região. Tempos depois, o mesmo menor foi preso pela polícia em outra ocorrência, sendo que o mesmo tentou se valer da fama involuntária para escapar da reclusão pelo novo incidente.

Também no Rio de Janeiro, um cidadão foi sumariamente assassinado em plena luz do dia com vários tiros por suspeita de roubo na região. As imagens circularam a internet e houve ampla divulgação do caso.

Por último, nesta segunda-feira uma mulher morreu na cidade de Guarujá, litoral de São Paulo, após ser espancada por moradores de um bairro por conta de suposta acusação sobre rapto de crianças na região a serem utilizadas em rituais de magia negra. No entanto, conforme já averiguado pela polícia local,  não houve qualquer acusação formal ou prova que qualificasse a agredida autora de qualquer crime, apenas a divulgação da denúncia de uma pessoa através de uma página do Facebook com uma foto de aparência similar a da vítima.

Em todos esses casos, o que se explicita é a total descrença da população sobre o estado no tocante ao poder judiciário e sua estrutura sabidamente paralítica. O estado de insegurança é tão evidente que as ações dos justiceiros de toga estão se tornando uma prática, e não uma exceção.

O governo por sua vez, e muito por conta da própria letargia, não age na origem do problema, mas somente nas consequências do mesmo. Traçando um paralelo, é a mesma coisa que vacinar a pessoa contra a gripe depois que a doença já praticamente matou o paciente.

Não bastasse a incompetência institucional que o país vive, agora surge mais um problema a ser resolvido: a sociedade em busca de uma justiça executada por ela própria.

Existirão os que bradarão a favor e contra o(os) ato(s) descritos acima, com seus argumentos inflamados buscando justificar uma situação de caos que há tempos vem dando sinais de sua existência. O que não se pode negar é que situações como essas só reafirmam que estamos vendo a instauração de uma estado anárquico com a complacência do estado, que se limita a remediar as catástrofes do nosso cotidiano.

Apesar de falhas, a justiça e suas instâncias ainda existem no país, e ninguém, por melhores argumentos que possam justificar, tem o direito de assumir tal posição. Agir dessa forma não fere apenas o poder do estado, fere o próximo, e as consequências estão aí, para que todos vejam. E ainda entendendo a indignação coletiva diante dos problemas sociais, ações como a verificada no Guarujá dão margem situações de injustiças, como parece ter ocorrido de fato nesse episódio.

E a pergunta fica: quem será a próxima vítima?