Se a intenção era demonstrar a insatisfação brasileira contra o
atual governo, a torcida presente ontem na Arena São Paulo (vulgo Arena
Corinthians) logrou seu êxito.
A repercussão do protesto foi internacional, fazendo com que
protocolos formais da solenidade de abertura da Copa do Mundo, como o discurso
da própria Presidente, fossem deixados de lado.
Agora, é inquestionável que toda razão tem um limite, e enquanto a
manifestação “popular” esteve no campo da vaia, foi legítima e de apoio maciço
de toda a população. Porém, a partir do momento em que o descontentamento foi
verbalizado em coro uníssono “Hei, Dilma, vai tomar no c....”, a razão dá lugar
ao excesso.
Entendam, não estou falando que a manifestação não foi legítima, pois é a
demonstração mais fiel (e não vem ao caso discutir se quem estava no estádio ontem representava ou não a maioria da população brasileira) do descontentamento popular atual. Agora, a verbalização em
ofensa para o mundo ouvir, esse é o ponto a ser discutido.
Todos nós sabemos que se o objetivo do governo era mostrar um país capaz de
receber um evento de peso como a Copa do Mundo, esse foi por água abaixo. Os
inúmeros problemas das obras dos estádios, superfaturamentos, negociatas, entre
outros, já explicitaram ao mundo inteiro que em matéria de alegria somos
insuperáveis, mas em organização ainda estamos aquém do mínimo aceitável.
Agora, imagina o brasileiro, aquele que paga seus impostos e os vê virarem
fumaça em uma cortina de incompetência estatal: o sentimento de indignação é infinitamente superior.
Se pensarmos que esse mesmo brasileiro tem seus direitos mais básicos são constantemente rasgados pelos representantes eleitos, os
frutos de uma Copa do Mundo para a grande maioria são ínfimos, quase nulos.
Aqui em Curitiba, por exemplo, somente os moradores no entorno da Arena
da Baixada estão gozando de algum legado da Copa, pois a região foi totalmente
revitalizada. No mais, o restante da cidade continua a mesma coisa, ainda
que inegavelmente melhor a grande maioria dos municípios brasileiros.
Só que como já havia comentado em outros posts, o brasileiro
reivindica errado, e por isso conquista pouco em seu favor. Protestar contra
jogadores ou xingar a Presidente em projeção mundial não mostram para o mundo somente
nossa insatisfação, evidenciam sobretudo nossa falta de educação e civilidade.
E enquanto alguns poucos discordam desse tipo de agressão verbal, como esse que
vos escreve, os quais inevitavelmente serão alvos de críticas, a grande maioria aplaude, disseminando mais um exemplo de quão ainda somos imaturos como reivindicantes de
nossos direitos.
É claro que pelo fato deste blog ter poucos acessos, esta mensagem fatalmente
terá pouco alcance e não cause nenhuma repercussão. No entanto, se meia dúzia de
pessoas lerem e pelo menos pararem para pensar por um instante no quão infeliz foi a atitude da torcida ontem, já
terá valido a pena.
Digo e repito, protesto ordeiro e sem violência são absolutamente legítimos. Agora, a agressão gratuita, independente da forma a qual seja feita, ainda que legitimada, perde sua razão.
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