Assunto do momento: a ação racista da torcida de um time espanhol
contra o brasileiro Dani Alves, e sua resposta oportunista e sagaz à ofensa, o
que acabou tornando-se uma espécie de tapa na cara de seus agressores.
Quanto a Dani Alves, nada a acrescentar senão um parabéns pela
atitude, de uma virtuosidade e inteligência ímpar. Comendo a banana arremessada
pelo aficionado, o jogador saiu do estado “mimimi” para outro muito maior, onde
respondeu à altura a agressão sem ao menos levantar um dedo ou o tom de voz.
Obviamente que não se pode ver oportunismo ou marketing na atitude
tomada pelo atleta, e dois motivos explicam isso: a) o ato de racismo provavelmente
foi premeditado pelo agressor, nunca pelo agredido, e sob esse aspecto a ação
de Dani Alves notoriamente foi inédita e improvisada; 2) o risco corrido que o
atleta correu ao comer a banana, que poderia estar envenenada por alguma
substância. Quem arriscaria sua saúde naquela situação de forma pensada?
Acredito que ninguém
No entanto, fato aliás que não me surpreendeu, uma série de
celebridades (ou pseudo-celebridades) postaram milhares de gigabites de fotos
com bananas em riste, mostrando “apoio” a atitude do brasileiro. Páginas de
sites e redes sociais ficaram infestadas de fotos da fruta tropical, algo
similar ao que aconteceu pouco tempo atrás com a história do #nãomerecoserestuprada.
Ocorre que no meu modo de entender isso soa muito mais como uma forma
de se aproveitar da situação para auto promoção do que qualquer outra coisa. E
não falo isso por questões étnicas ou sociais, mas simplesmente porque o
brasileiro adora promover-se em cima da desgraça alheia.
Todas as milhares de fotos postadas nas redes sociais, com ou sem
banana, comendo a fruta ou a empunhando como uma espada ou troféu, só
demonstram quão oportunismos somos diante das polêmicas. Podemos equiparar esse
fato a qualquer fatalidade do dia-a-dia, na qual ao invés de ajudarmos em
primeiro lugar, filmamos para jogar na web (ou capitalizar vendendo para algum
órgão de imprensa).
Todavia, vivemos em meio à tal “liberdade de expressão”, e esta é tida
como o arauto da sociedade contemporânea. E baseando-se nisso, é permitido que
até mesmo o aproveitamento oculto ocorra sem que ninguém seja tachado por isso.
Agora, colocados à prova não contra bananas, mas contra situações de seus
cotidianos, todas essas “celebridades” agiriam diferentemente?
Isto serve como reflexão, não só para o caso específico de Dani Alves,
mas para todas as outras oportunidades onde a mídia e os midiáticos expressam
suas opiniões, sabendo que estas terão um alcance fenomenal.
Infelizmente a sociedade vem transformando-me cada vez em uma pessoa
mais cética sobre seus propósitos, o que acaba tornando-me cada vez mais
incrédulo às suas boas intenções, ainda mais daqueles que não passam pelas
dificuldades que negros, pobres e excluídos da sociedade passam diariamente.